Um alerta ou um equívoco?

De tempos em tempos, a subcultura gótica volta aos holofotes — e nem sempre pelas melhores razões. Recentemente, uma publicação americana reacendeu antigos estigmas ao associar o estilo gótico com satanismo, violência e ocultismo, sugerindo que vestir-se de preto e ouvir rock alternativo pode ser a porta de entrada para o “mal”.

Velas, livros e elementos simbólicos organizados de forma estética, representando o interesse artístico e espiritual de muitos góticos.

Mas até que ponto essa preocupação é legítima? E onde termina a proteção e começa o preconceito?

O Estilo Gótico Vai Além das Aparências

Sim, o gótico é sombrio. Ele flerta com o mistério, a morte, o melancólico e o poético. Mas isso não significa que seja perigoso. O visual dark — roupas pretas, maquiagens marcadas, estética dramática — é antes de tudo uma forma de expressão artística e, muitas vezes, um escudo emocional contra um mundo cada vez mais superficial.

Para muitas pessoas, o gótico é um refúgio de autenticidade, não uma ameaça.

O Medo do Diferente: Um Padrão Repetitivo

Quando jovens como Eric Harris e Dylan Klebold — os responsáveis pelo massacre de Columbine em 1999 — foram erradamente rotulados como “góticos”, uma nuvem de medo se espalhou. A mídia buscava culpados e, infelizmente, encontrou no visual dark uma forma de demonizar toda uma cultura alternativa.

A verdade? Esses jovens não eram parte ativa da subcultura gótica, nem foram influenciados diretamente por ela. Essa associação precipitada teve consequências duradouras: perseguições, preconceito e exclusão social de jovens apenas por sua estética.

Gótico e Ocultismo: Existe Conexão?

Alguns góticos se interessam por espiritualidade alternativa, como o ocultismo ou o esoterismo — assim como muitas pessoas fora da subcultura também o fazem. Mas dizer que o gótico “leva ao satanismo” é uma simplificação perigosa e moralista.

Na prática, a grande maioria dos góticos é composta por pessoas introspectivas, sensíveis, criativas e apaixonadas por arte, literatura, música e liberdade de pensamento.

A Realidade Ignorada

Pouco se fala das vítimas reais do preconceito. Sophie Lancaster foi assassinada brutalmente em 2008 no Reino Unido por causa do seu visual alternativo. Seu caso escancarou a intolerância que ainda existe contra quem ousa ser diferente.

Quem realmente representa perigo: a pessoa que veste preto e lê Poe? Ou quem reage com violência a uma escolha estética?

Precisamos Falar com Mais Respeito

A tentativa de ligar o gótico ao "mal" é parte de uma narrativa que se repete sempre que uma geração ousa questionar padrões, desafiar o senso comum ou simplesmente vestir-se de forma não convencional.

A subcultura gótica não é sobre maldade. É sobre autenticidade, liberdade criativa, acolhimento e profundidade emocional. E é por isso que, hoje, ela continua tão relevante.