Marina Abramović não é apenas uma artista performática.
Ela é um fenômeno que transita entre a arte, o espiritual e o sombrio. Conhecida por testar os limites do corpo e da mente, Marina ficou famosa por criar performances intensas, muitas vezes perturbadoras, que exploram dor, resistência e presença absoluta. Mas há algo mais profundo por trás de sua obra — algo que atravessa os domínios do visível e toca o território do ocultismo.
O Corpo como Portal
Desde os anos 1970, Marina transforma seu corpo em templo, espelho e instrumento.
Ao jejuar, permanecer imóvel por horas, encarar o público em silêncio ou expor-se ao sofrimento físico, ela convida o espectador a entrar num estado de consciência alterada.
Esse uso ritualístico do corpo não passa despercebido. Na verdade, é uma das marcas que aproximam sua obra das tradições místicas, xamânicas e ocultistas.
Ela mesma já afirmou:
“A verdadeira arte deve ser uma experiência transformadora.”
E transformação é o que se busca nos rituais esotéricos — não por acaso, ela bebeu de diversas tradições espirituais, do Budismo ao misticismo ortodoxo, passando por referências xamânicas e alquímicas.
Spirit Cooking: Arte ou Magia?
Em 1997, Marina apresentou a polêmica obra Spirit Cooking, uma performance-instalação que envolvia receitas simbólicas escritas com sangue em paredes e superfícies.
Entre os “ingredientes”: dor, tempo, silêncio, intenção.
Apesar de ser concebida como arte conceitual, muitos viram na obra indícios de práticas ocultistas — especialmente quando o trabalho foi redescoberto anos depois em meio a teorias da conspiração na internet.
Mas para Abramović, tudo é sobre energia.
Ela nunca se declarou ocultista, mas também nunca escondeu seu interesse por temas metafísicos, estados alterados de consciência e a ideia de que o invisível é tão importante quanto o visível.
Rituais, Silêncio e o Invisível
Em diversas entrevistas e oficinas, Marina ensina práticas de respiração, longas caminhadas em silêncio, jejuns e técnicas de concentração — todas com inspiração espiritual.
Ela acredita que o artista deve estar "vazio" e disponível para se tornar um canal.
Isso dialoga com muitas escolas esotéricas, que veem o corpo como um receptáculo de forças maiores, e a prática como forma de preparação para o contato com o sagrado.
Arte como Ocultismo Contemporâneo
No fim das contas, Marina Abramović representa uma figura rara: uma mulher que não tem medo de encarar o abismo, o sagrado e o proibido — e que transforma tudo isso em arte.
Sua obra é um convite para atravessar portais.
Entre o corpo e o espírito.
Entre o visível e o oculto.
Entre a arte e a magia.
O que aprendemos com Marina Abramović?
Que o ritual pode estar em tudo.
Que o corpo é um templo.
E que, às vezes, a arte mais poderosa é aquela que nos confronta, nos desconstrói… e nos transforma.
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